Foto: Divulgação/Globo
Interpretando o “tiozinho do rock” Ramón, Leonardo Medeiros vem se destacando na novela “Tempos Modernos” da Globo. Apesar do texto de Bosco Brasil não ter conquistado totalmente o público até aqui, a trama apresenta um projeto ousado para o horário e os personagens são bastante ficcionais, o que dá margem para críticas. Mas Leonardo não se importa. Para ele, “as críticas negativas são difíceis de engolir, mas são as mais construtivas” e não o abalam.
O ator, de 45 anos, conta com uma experiência de 30 anos no teatro e 15 no cinema e é com essa base que analisa o que ouve ou lê a respeito de seu trabalho. Sobre o fato da novela ter sido “gongada” na mídia, ele diz: “acho uma pena. Mas é assim mesmo. A história universal da crítica nos explica que os críticos sempre foram vinculados a valores ultrapassados, à manutenção do status quo. Se não fosse assim, eles seriam artistas, e não críticos. A novela faz vários apontamentos arriscados em direção a uma teledramaturgia diferente”.
Na trama, Ramón é responsável pela administração da galeria do rock e criou os dois filhos, Jannis e Led, sozinho, após a partida de sua mulher, Ditta, que decidiu investir na carreira internacional de cantora lírica.
Veja a íntegra da entrevista:
Leonardo, nos conte como foi a preparação para viver Ramón em “Tempos Modernos”. Você foi à galeria do rock, conversou com as pessoas de lá, como foi?
Leonardo Medeiros: Simplesmente lembrei da minha adolescência roqueira nos anos 1970. Frequentei muito o centro e a galeria. Conheci muitos Ramóns. Acho que eu mesmo era meio Ramón.
Alguns críticos “torceram o nariz” para o formato da novela de Bosco Brasil. Como você vê este formato mais dinâmico e inovador para o horário das sete?
Acho uma pena. Mas é assim mesmo. A história universal da crítica nos explica que os críticos sempre foram vinculados a valores ultrapassados, à manutenção do status quo. Se não fosse assim, eles seriam artistas, e não críticos. A novela faz vários apontamentos arriscados em direção a uma teledramaturgia diferente. E também recupera valores esquecidos, como o investimento na ficção imaginativa. “Saramandaia” ou “Que Rei Sou Eu?”, seriam fracassos retumbantes hoje em dia. Não sei explicar por que o público está tão sedento de “realismo”. Talvez os críticos possam explicar.
Você interpreta um roqueiro, um “tiozinho do rock”, e já foram publicadas críticas a respeito do seu personagem. Isso te abala de alguma forma? Fez com que mudasse algo na interpretação?
Já estou no teatro há 30 anos, e no cinema há 15. Sempre exaltaram meu trabalho. Tomei várias pancadas também. É a vida. As críticas não me abalam. Tento compreender o que motiva o crítico, para tentar melhorar. As críticas negativas são mais difíceis de engolir, mas são as mais construtivas.
Como é a sua ligação com o rock? Curtia quando mais jovem?
Era fissurado. Cresci no rock’n’roll, tinha banda de garagem e tocava bateria. Era radical que nem o Ramón. A única música para mim era o Rock. Hoje sou totalmente eclético. Virei budista e abandonei o apego ao “gosto”.
Você interpreta um pai que costuma ser rígido com os filhos, apesar das tatuagens e do visual despojado. Como lida com essa diferença para construir o personagem? Como vê a relação do Ramón com Led e Jannis?
É uma inversão divertida. O pai ciumento que se comporta como uma criança. Esse é o eixo do personagem. O Ramón é um cara coerente e honesto, responsável pela administração da galeria, mas os ciúmes com os filhos tiram ele do sério. Ele vira um adolescente insano. Estou me divertindo.
Você também é pai. Acredita que a postura de Ramón na educação dos filhos é compreensível? Proibiria o filho de fazer algo que gosta por aquilo não ser o que você sonha para ele?
Claro que não. Como eu disse anteriormente, a novela vai fundo na ficção e deixa os atores à vontade para criar personagens mais desenhados, com mais personalidade. Se o Ramon não fosse um radical, não teria graça. Meus filhos fazem da vida o que acharem melhor para eles.
Como é o clima nas gravações de “Tempos Modernos”? Está trabalhando com alguém com quem sempre quis trabalhar?
O clima é ótimo. É uma turma legal de trabalhar. Não tem intrigas nem ciumeira. Está sendo incrível trabalhar com o [Antonio] Fagundes. É um exemplo para qualquer ator, une profissionalismo e talento em proporções geniais. Virou meu ídolo.
Analisando a sua carreira, desde que foi reconhecido pelo público, nas peças de teatro com a Sutil Companhia e em “A Favorita”, interpretando o prefeito Elias, como você vê esta evolução? Mudaria algo em sua trajetória?
O retrospecto me deixa feliz. Até agora foi uma carreira construída com vagar e solidez, pedra sobre pedra, sem nenhum salto e nenhuma queda. Sem alarde e sem frescura.
Ainda existe preconceito por parte dos atores que estão no teatro ao verem colegas irem para a TV? Com você, aconteceu algo nesse sentido?
Sempre tem a turma da patrulha. Várias pessoas se decepcionaram com minha opção pela TV. Não dá pra agradar todo mundo o tempo todo. O Ary Fontoura me disse uma vez: “Ator mete o pau na televisão até a hora que entra nela.”
Além da novela, quais são os planos para este ano?
Tem meu filme novo, “Insolação”, um filmaço que estréia em março. Talvez volte com a Sutil Companhia para uma remontagem de “Não Sobre o Amor”, depois da novela.